quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Poemas do Livro: Os Atemporais


SONHO

Meu caminho é como o éter fabuloso, obscuro e intangível.
Meu corpo é esquálido e meu toque é oniricamente surreal.
Meu reino são os jardins suspensos pelo fascínio instável.
Sou o atemporal que devora a banalidade fugaz e trivial.

Minha voz sussurra a fantasia e minha música é quimérica.
Nos meus domínios eu manipulo a física e desafio à lógica.
Onde meus dedos longos tocam, causo inspiração magnífica.
Meu ímpeto deu origem às obras-primas e à própria mágica.

Meu pecado é necessário aos meus vastos devaneios lúdicos.
A preguiça traz o ócio que liberta a contemplação filosófica dos poetas.
A preguiça traz o sono que liberta o R.E.M, deixando-me entrar como os profetas.

Eu desvendo meus épicos domínios na companhia alada do mais belo dos grifos,
As suas virtudes são muitas e sua presença é geniosa e acalentadora.
Em pouco tempo tocarei sua mente com o olhar cirúrgico de outrora.

E direi: muito prazer eu sou o sonho...

Thiago Rodrigues de souza


CAOS

Eu carrego os dados da incerteza e tenho nas mangas as falhas de comunicação.
As crises econômicas e o desespero do homem são meus ensaios.
Corrupção e meu sobrenome, e os corruptos meus fieis lacaios.
Eu danço com a entropia rasgando as leis e queimando a sua constituição.

Desordem e minha inspiração e o descontrole meu amado aliado.
Sem minha presença não há ordem, pois a própria ordem me convida.
Meu corpo é assimétrico e meus traços são tortuosos como a vida.
A sorte e o azar são marionetes nas minhas mãos tremulas pelo pecado.

Meu pecado é a avareza, pois minhas riquezas são inegociáveis.
Eu sempre quero ganhar mais e mais nos meus jogos sádicos de azar.
Os que se deitam comigo pagam o preço pelo meu pecado elementar.

Na babilônia antiga eu encontrei meu monstro de companhia.
Tiamat veio ao meu encontro e nos unimos em pacto sagrado,
Ela é a consumação vivaz dos meus desejos, no meu domínio selado.

Thiago Rodrigues de Souza


(ALEXANDRE O GRANDE)

A GUERRA

Eu fiz tribos e nações derramarem sangue em trincheiras.
Deleitei-me com a sinfonia das espadas na orquestra bélica.
Minha língua tem gosto de cortes e eu respiro a violência alheia.
Alimento-me dos órfãos e viúvas que restam da agonia esférica.

Sigo guiando as cúpulas dos governos e dos meus lacaios vis,
Enquanto a religião apóia, cega, minhas moléstias irascíveis.
Sou mundial, civil e fria, meus escravos são sempre fortes e viris.
Sou o ápice da seleção natural de uma raça de víboras instáveis.

Meu pecado é a ira com seu cálice sedento de sangue acre-doce.
Eu exalo fúria e ambição, essa é a combinação letal do meu império.
As almas sob minha regência não têm compaixão e a piedade é estéril.

Desbravo os meus domínios ao lado de um monstro nórdico.
O temido lobo Fenrir, me acompanha, com sua fúria devastadora.
Devorando os corpos que não foram achados nos combates de outrora.

Thiago Rodrigues de Souza.



SUICÍDIO

Sou um ente deveras poderoso e tenho sido muito solicitado.
Encontrar-me é a comprovação fidedigna do livre-arbítrio.
Escolher ativamente o instante do fim inevitável, num ato conjurado.
O poder de escolher a não existência é meu grandioso ofício.

Entrego-me a poucos, pois muitos são os que procuram minha mente.
Ofereço um poder de escolha que foi negado até aos anjos caídos.
O homem nunca pediu a existência, e foi jogado num jogo contingente.
O homem é o acidente orgânico do pós-coito híbrido dos acorrentados.

Diante dessa entropia entrego-me a ti, pois nem Deus pode ter-me,
A morte é minha mentora, ela não precisa tentar, a resposta está nela,
Meu pecado é a inveja, pois meu poder é limitado diante dela.

Meu monstro de companhia é o Basilisco com seu olhar mortal.
É o olhar dos que têm a inveja na alma e com os olhos destrói as almas alheias.
Eu sigo com meu evangelho impar sempre buscando as mais frias veias.

Thiago Rodrigues de Souza


A MORTE

O meu pálido corpo caminha entre as lápides e mausoléus.
O meu canto é sádico e a minha presença é indispensável.
Sou um ser necessário e carrego o peso da ordem mutável.
Sem mim a vida seria insuportável, caótica e cheia de réus.

A vida me pede passagem e eu seleciono quem vai e quem fica.
Meu pecado é sem dúvida a gula, meu apetite é insaciável.
Ando na companhia de um monstro atroz e infalível.
O Cão Cérbero fareja as almas que esperam minha visita tísica.

Gosto dos assassinos e suicidas, apesar de estarem em pólos opostos.
Vi diversas formas de extrema unção selarem os meus feitos.
Minha função é mórbida e minhas realizações não têm defeitos.

Sou o ente mais temido e incompreendido entre os atemporais.
Sou o fato consumado e de mim não há fuga ou argumentação.
Cedo ou tarde lhe farei uma visita fúnebre sem aviso de antemão.

E direi: muito prazer eu sou a morte...

Thiago Rodrigues de Souza

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